20.5.11

de P.erpetuum M.obile - (para)

...onde então eu rosnaria pra você, e ciciando mil neologismos insignificáveis no seu ouvido seria confundido com um outro. Aquele que ambulava com estrelas enferrujadas no bolso esquerdo, o sapato gasto e sujo, e a cara macia, porque acreditava que não haviam mais lastros de memória para se render. Antes disso você sabia o que éramos e por quais ruas deveríamos ter passado e em qual esquina teria sido necessário dizer adeus!, mas ainda assim preferimos recriar a primeira versão dos fatos num motocontínuo delicado... onde então eu rosnaria pra você?, e ciciando mil neologismos insignificáveis no seu ouvido seria confundido com um outro? Não com aquele que ambulava com estrelas enferrujadas no bolso direito, o sapato gasto e sujo, e a cara macia, porque acreditava que não haviam mais lastros de memória para se render. Antes disso você sabia o que éramos e por quais ruas não deveríamos ter passado e em qual esquina teria sido necessário dizer adeus?, mas ainda assim preferimos recriar a primeira versão dos fatos num motocontínuo delicado... onde então eu rosnarei pra você, e ciciando mil neologismos insignificáveis no seu ouvido serei confundido com um outro. Aquele que enferruja estrelas ambulantes no bolso esquerdo, de sapato gasto e sujo, e a cara macia, porque acredita que não há mais lastros de memória para se render. Depois disso você sabe o que seremos e por quais ruas deveremos ficar perambulando e em qual esquina será necessário dizer adeus!, mas ainda assim preferiremos recriar a primeira versão dos fatos num motocontínuo delicado...

13.5.11

de Céu memorável

houve um céu memorável
numa esquina rica em detalhes
cujos enfeites viravam defeitos

apóstolos ajoelhados
jogavam e apostavam
tudo o que não tinham
uvas, maçãs e manjedouras...

no cal a pele maciava estranhas figuras


Na estante uma cabeça de górgona tagarelando comigo. Finjo que não sei ou que não escuto. Sou Perseu aposentado de pernas pro ar. "Pégasus, cadê o osso? Pega! vai. Pega!" Os vizinhos reclamam do barulho. Do lado de fora milhares de batons fincados pelas frestas da janela, baleias sangrando no oceano, e os edifícios sombreando o sono dos desabrigados. Qualquer dia haverá um motivo pra se lamentar disso tudo. Não hoje. Não agora. Ainda há garrafas de cerveja na geladeira, e por enquanto isso basta. Prostitutas delivery. Tv a cabo. Código genético. Luta de classes. 



lá longe
          no oriente      por enquanto        exalam
                                                              o exílio      essencial
                                                                                    de      cada      palavra

4.5.11

de Cultivos Gregos

sim!, porque se meu corpo fosse um poço
e alí florescesse com um adubo numinoso
uma essência quinta como flor de lótus
pura e improvável num jardim lamacento
(esperança de quem crê no mito do cultivo)
    de repente uma lança
                                               aguçada no meio do mundo

                  ou num agravo de luz
                                                         que cega


a penumbra de um pensamento borbulhando na entranha de um musgo universal

                                      que divide a medida

e arrefece os ouvidos
à resposta pra uma pergunta infantil:                     crianças morrendo no bosque -

                  brincadeira inocente.


quando sentíamos sede
                                     quando havia um lugar
                                                                          enquanto houver tempo
 - e o mundo prestes a desabar -


                                                                           cantigas da infância e metros de solidão

fugido de uma verdade oblíqua onde tudo é reticente e mutável e adubavelmente persistente seja no tempo ou na pequena redoma de luz que são os teus olhos-agora


                        um fugitivo
                                        e um lotófago

                                                                      um ovo eclodido
                                                                                         e um grego com epifania:

                                                            - os hiroshimilhosbrancos! vejo-os no milho! -



...no cinema o casal tem o desfecho de sua própria representação -
                                                                                       "Francamente, querida,
                                                                                         eu não dou a mínima"


                                                e nada termina sem um último suspiro...