20.10.10

de Folha Presa

aaAprocura pppor sigggggnificados tristesssss

             elevar-se às escolhas!

                          decompor
                               canções
                                     da infância

tornar-se
           fatalmente
                     sereno

              enervar
                    a vida
                      por
                       via de regra

                                 recontar
                                            progressivamente
                                            os
                                          amores

                                                                             rir-se no tombo de plauto:
                                                           - variação trágica do ego -

           as ruas de babel já travaram línguas com este papel


                agora
                         recomponho-me         nas minhas
                                                                        próprias        contradições...                              

16.10.10

(ÓPERA) de 'Calles'


tocadores de pífano soltam seus cheiros pelas calçadas e de sapatos descalços pífam sonhos, libertam o som do silêncio, esvaziam a lembrança e recolhem moedinhas em troca de miúdos gemidos - como se fossem preferíveis alçam-se daqui como bolhas e escorrem pelos olhos dos que se estreitam pelas paredes - desafinando a todos que passam... tocadores de pífano! pifemos! o ar já sabotou o silêncio podemos agora saborear o ar amargo-lírico dos oniromânticos...

15.10.10

de Papel Antigo

No lombo do boi
                  - a gafe:

         método desfazendo curva
         verso ruminando a forma

dia e noite como já dizia o ditado

  "formosura em pé descalço
   alça a fôrma aperta o laço"

9.10.10

de 'Conto para um Palco Italiano'

(um casal sentado num balanço de crianças)

ELE- Era uma noite de abril; estava com um cachecol vermelho, e uma bota preta que ela levaria para consertar um zíper na semana passada. Seu rosto estava um tanto vermelho pelo vinho que tínhamos acabado de abrir; o seu pescoço se mostrava timidamente sobre os cabelos a altura dos ombros.

ELA- Pois é! Recebi o convite ontem...

ELE- Ela me olhava com um sorriso hesitante.

ELA- Eu recusei.

ELE- Ela desviou os olhos... Que absurdo! Há um ano que você espera por essa oportunidade! Vai telefonar hoje mesmo!

ELA- Não. Por favor, não posso aceitar. Teria que ficar por lá pelo menos um ano; na verdade, teria que arranjar a minha vida por lá... Não quero.

ELE- Lembra do nosso pacto: nossa história não deve fazer você perder nenhuma oportunidade. Vá, pelo menos por um ano. Pensa bem, você tem tanta vontade de viajar!

ELA- Um ano longe de você!

ELE- A gente volta a se encontrar.

ELA- Ele me apertou contra o peito. Ele sabia. Eu não desejava mais viagens, nem perfumes, nada além dele. Eu tinha tecido, durante aquele ano, e com a cumplicidade dele, aqueles laços que me ligavam a ele...

ELE- Como poderia ela, de repente, rompê-los?

ELA- Está desapontado? Teria sido uma boa maneira de se livrar de mim?

ELE- Ela sorria com tristeza... Não tenho a menor vontade de ver você longe de mim, mas me sinto mal por fazer você perder uma oportunidade dessas.

ELA- O coração dele fica constrangido quando precisa ser amável com alguém que sabe que o ama.

ELE- Além de mim ela nada mais amava no mundo. O resto do universo perdera a seus olhos todo o colorido. E eu só lhe concedia uma pálida ternura. Eu a enclausurava num amor solitário.

EU- Por que você não casa com ela?

ELE- Não a amo de verdade.

EU- então por que penetrou tão fundo na vida dela?

ELE- Foi ela quem quis. Disse que a ela cabia escolher, que é livre.

ELA- Se eu pelo menos tivesse certeza que você realmente me quer quando estou do seu lado, que não fica de porre quando sempre te procuro.

ELE- Porque diz isso? eu ficaria como uma alma penada se você me deixasse. Eu só me sinto culpado, só isso.

ELA- Ele me apertou contra o peito, me beijou os cabelos, o rosto, a boca. Me beijou com uma espécie de paixão.

ELE- Eu procurei as palavras mais ternas; e não compreendia por que motivo eu me envergonhava de dizer algumas. Ela estava linda. Sabe?

ELA- Nessa hora seus olhos brilhavam como uma ameaça de felicidade...

ELE- Nunca imaginei que eu poderia me apegar tanto assim a você. Estou ridiculamente feliz por você ter ficado comigo.

ELA- Mesmo?

ELE- Mesmo.

EU- Sim, é muito bonito deixar as pessoas livres...

ELE- Sempre pensei desse modo.

EU- Mas ainda assim nunca deixamos de ser responsáveis.

ELE- Eu revia o rosto corado, os olhos decididos. É você quem deve escolher. Mas que escolha foi reservada pra ela? ela poderia escolher que eu a amasse? que eu não existisse? que não tivéssemos nos conhecido nunca? Deixá-la livre era ainda decidir por ela... O que eu posso fazer? Devo mentir?

EU- Ah... eu não posso te dar conselhos...

(longo silêncio. B.O.)

8.10.10

de Alcólicas...

Bebo à lembrança... Ah, Modigliani... Que minha bebida dê vida aos títeres, que meus goles afoguem estes ventrílocos passivos... Se minha goela fosse a fonte de um novo dilúvio... A bebida não cessa nem inicia dores e alegrias... elas apenas dormem... Bebo ao esquecimento!... Ah, Anabelle... O oriente dos exílios das filosofias e da bem-aventurança... essas coisas não cabem no meu sangue... Não sou das cimitarras... tenho o grito solto e roco... nem sou vela no mar; sem conquistas sem o merecimento das promessas antigas... minha deriva é em terra de língua estrangeira... já que o mito é morto desde o nosso nascimento... Uma probabilidade do porvir... O que inventar do depois? Depois do depois... um rancor e um soco não nos traduz...

6.10.10

de Ônibus

Torpe? Que palavra é essa que não assusta mais? que não contém torpeza... Que psicanálise é essa que  compreende sempre tão bem o vazio das coisas? Que poética é essa que ao não heroicizar a vileza torpe se torna descontente e vazia por não saber mais como virtualizar uma escolha simples e mal-medida..? A oposição afirma o seu oposto: e proposta a ser fato, não contente, nega a afirmação feita pelo seu próprio contrário... O que pensa você ao pensar assim? Sim! porque é assim que costuma pensar... Pensa que entende e sabe a contradição posta à mesa? Jantemos portanto pois temos fome; e se há o que comer... A fome sim é virtude! A falta de comida torpeza, das mais graves - sem discussão. Você passa fome?

3.10.10

de Celular

procuremos então aportarnos. basta de dar braçadas para não se sufocar no ar da atmosfera. ME APONTOU UMA FACA NO PEITO, SABIA? procuremos nos abster das lembranças boas e das ruins. MAS AQUI E AGORA - NÃO SER O QUE SOU E SER O QUE DEVERIA? me lançarei então a qualquer verdade desde que ela sustente todo o peso do mundo que me pesa nas costas... por ter sido o que sou fui ludibriado como o tolo e bondoso Atlas. TAMBÉM EU NÃO CONTROLO CERTAS COISAS - TAMBÉM NÃO QUERIA QUE ELAS VOLTASSEM. poderei buscar nos contornos mais sutis da superfície terrestre os nomes perdidos das coisas e tentar compreendê-los se isso me valesse uma vida... DAS DUAS METADES DA LEMBRANÇA PARECE QUE FIQUEI COM A MELHOR PARTE. A QUE DÓI PRA SEMPRE. A QUE NÃO CICATRIZA NUNCA. mas é preferível aportar. é mais seguro seguir em frente daqui parado esperando as estrelas morrerem, o sol secar, o céu se dissolver, o mundo murchar como uma velha maçã podre... apenas olhos móveis para despalpebrar-se da fuligem dos homens...eu não sou uma máquina.

2.10.10

de 'Suíte ZERO'


jazigos silenciosos já buscavam razões para seus mortos

numa monstruosidade numérica onde dezenas eram fontes de águas largas - abril - portas amoleceram como gengivas no frio por onde cada dedo convergia estados em modificações e prisões por abnegações por onde cada olho por si espargiu e ouvindo atravessar o próprio sangue fora dalí coube-me saber onde estava o homem que eram unhas cabelos e dentes todos dalí? o que por fim eram flores eram flores e são flores e ainda estão mas onde estavam as andrômedas? mil arcas destampadas pra que? se ainda sou o único que lembra das andrômedas e de suas têmporas com quem lembrarei o tempo de antes depois? a quem pedirei a conta do sangue das lembranças?


o cárcere imediato das portas que se abrem tendas de senhores e escravos de línguas e nações prometidas pelas gerações a fornicar perpetuidades e abundar-nos de nossas próprias abjeções à isso tudo caberia acostumar-se as coisas que se quebram dentro e fora dos tímpanos

de Janelas

Da janela da pra ver a prostituta penteando os cabelos...

Dalí dá pra ver o võo dos pássaros... levados pelas correntes de ar... as pombas, andorinhas, bandos romanos de navegantes livres de diversas religiões e etnias... como se diz entre os lotófagos:

crocita! crocita! a janela é tão propiciadora de manás como de desertos e não sejamos reis apenas por animosidades mas não deixemos de crocitar a plenos pulmões! longamente se possível e voltar tão bem quanto partiu