a manhã e eu nos estranhamos
foi um matinocídio
ERA COMO SE O DIA
mistura de pó translúcido e a deusa virgem enlouquecida de tesão
- máscara do tempo -
ficção dos sete
uma semana de trilhões de bilhões de sustos em wall street berrini de ferro
misto de suíno e sina
prata da casa chourizos de bronze
forjado na história uma ponte pro futuro
FOSSE...
(luz fresca)
até mesmo Billie Holliday empalideceu
quando o gurú dos lábios moles manteiga de cacau gurú natal pura vitalidade e ossatura vegetariana empata foda sempre alerta
oferecidamente ofereceu
pílulas de verdade
sem data de validade
(idéia fixa)
DURAR PARA SEMPRE!
...e ser um natimorto no jardim das delícias e dos cosméticos
... e a Beleza então será como a marca de um ferro quente na carne de nossa Quimera
6.12.11
28.11.11
-- porque teus pés são teu coração-- (para r.m.m.)
Primeiro toque da manhã - o despetalar primeiro da primavera:
"que estou sempre contigo"
é a sensação mesma do verão de outrora quando procurava nos rastros da rua tua companhia teus ouvidos tua voz...
é que a geografia agora é outra, e a fisionomia é mudança, e na espiral doida dos pensamentos
penduramos - nossas - carcaças
não é questão de tempo - o aqui e agora não existe, como insistiam nossos tutores da raça - o tempo é movimento, e quem move são nossos rostos rasgados pela luz, nossos cabelos comprimidos pelo vento, nossos pés se movendo em sangue e lágrimas...
e já não é mais isso
- onde quer que repouse em teu sono é lá ainda que deves despertar -
mas, quem sabe não estejam certos os que dizem, amanhã é outro dia... tão fácil constatar na matemática as operações egípcias... mas na vida é tão mais difícil, multiplicar, dividir e zerar na equação...
se eu posso, compreenda, porque agora falo comigo mesmo:
PONDERA mas esquece de entender
esquece o livro das virtudes, esquece teus planos, esquece do que
era
para
ser...
- 'olha pro movimento em movimento dentro do movimento' -
(e que sejam estes teus pés)
"que estou sempre contigo"
é a sensação mesma do verão de outrora quando procurava nos rastros da rua tua companhia teus ouvidos tua voz...
é que a geografia agora é outra, e a fisionomia é mudança, e na espiral doida dos pensamentos
penduramos - nossas - carcaças
não é questão de tempo - o aqui e agora não existe, como insistiam nossos tutores da raça - o tempo é movimento, e quem move são nossos rostos rasgados pela luz, nossos cabelos comprimidos pelo vento, nossos pés se movendo em sangue e lágrimas...
e já não é mais isso
- onde quer que repouse em teu sono é lá ainda que deves despertar -
mas, quem sabe não estejam certos os que dizem, amanhã é outro dia... tão fácil constatar na matemática as operações egípcias... mas na vida é tão mais difícil, multiplicar, dividir e zerar na equação...
se eu posso, compreenda, porque agora falo comigo mesmo:
PONDERA mas esquece de entender
esquece o livro das virtudes, esquece teus planos, esquece do que
era
para
ser...
- 'olha pro movimento em movimento dentro do movimento' -
(e que sejam estes teus pés)
17.11.11
Κάθαρσις de catarse
Eu sinto quando sinto:
quando sinto
ela se aproximando,
é pela perfumaria que sei
pelo olor
que primeiro me enjoa
pelo nojo do cheiro suave que ela traz pela cona
que me revolve as tripas
e me barganha -
(satisfazendo o desejo não me mata a fome)
ao entrar pelas narinas seu odor me retorce a traquéia
me bloqueia o espírito e introduz alí
-onde deveria haver vida-
dançarinas pílulas ula-ula:
DiArREiniNA-feLicIdiNA
um extrato abstrato do que devia ser
e não é
e do doce bálsamo do paraíso memorial
resta apenas o macaco:
adão à pururuca
sangue indigesto da beleza
sacristão da indiferença
eis-me alvo
sentado e higienizado
refrescado pela água na bunda
grega e saltitante
: a merda afogada :
é uma tragédia purificante!
quando sinto
ela se aproximando,
é pela perfumaria que sei
pelo olor
que primeiro me enjoa
pelo nojo do cheiro suave que ela traz pela cona
que me revolve as tripas
e me barganha -
(satisfazendo o desejo não me mata a fome)
ao entrar pelas narinas seu odor me retorce a traquéia
me bloqueia o espírito e introduz alí
-onde deveria haver vida-
dançarinas pílulas ula-ula:
DiArREiniNA-feLicIdiNA
um extrato abstrato do que devia ser
e não é
e do doce bálsamo do paraíso memorial
resta apenas o macaco:
adão à pururuca
sangue indigesto da beleza
sacristão da indiferença
eis-me alvo
sentado e higienizado
refrescado pela água na bunda
grega e saltitante
: a merda afogada :
é uma tragédia purificante!
26.9.11
de import(UN)âncias
Não importa. A não-história aqui contida; os esforços empreendidos para compreender a melancolia dos dias; o afã pelo desconhecido – tornado possível; não importa. Que haja na navalha cegas competiçoes entre homens e cães: se não haverá ração para ambos. Não importa. Que não sejamos idólatras. Não importa. Que ainda não amemos uns aos outros apesar de todo o dinheiro do mundo. Não importa. Que a importância dos dias ainda não seja a devida. Não importa. Que a dívida supere o Valor das coisas. Não importa. Se a importação vai mal. Não importa. Ser ou não ser. Não importa. Que a repetição parecerá um mantra. Não importa. Que não devia ser repetido. Não importa. Que a matéria refaça o espírito. Não importa. Para que o Incompreensível possa figurar-se Belo... Não importa. Para que os sorrisos não minguem... Não importa. Se é bom ou ruim. Não importa. Mesmo a exportação. Não importa. Explicações... Não importa. Distração. Também não. Minimalismo. Não importa. Fé. Não importa. Canibalismo. Não importa. Café de coador. Não importa. Datilogravura. Não importa. Que esse texto seja de vinte e sete de dezembro de dois mil e oito. Não importa. Ptemonômilis. Não importa. Ainda que a feére possa argumentar nos tribunais das injúrias e das contradições a favor de nosso pleito, os olhos estarão sempre ardendo adentro – feridas de causas internas. Não importa. O minuto pelo qual passa uma vida. Não importa. E que eu não sinta, absolutamente, pelos que virão. Não importa. Que eu não entenda nada. Não importa. Que tudo seja música! Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Idem. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa. Não importa.
9.9.11
de nomesteus
não posso conservar o som do teu nome no vento por mais tempo que o tempo que leva para dizê-lo...
e quando pronuncio a l o n g a d o
cada sílaba como se fosse
um
pedaço
teu
deixando que cada letra sibile entre os dentes como se pudesse morder a carne
(ainda macia da boca...)
- nada disso se parece com você -
e por isso é ainda hoje o teu pre-nome que eu chamo à noite
um rosto rasgado pela luz
sorriso rouge num corte contornal
desfiladeiro dividindo a semelhança
e era com o fio no olhar que eu te chamava
(quando não havia palavra que nomeasse tua geografia)
- porque nada disso contém teu nome -
e quando pronuncio a l o n g a d o
cada sílaba como se fosse
um
pedaço
teu
deixando que cada letra sibile entre os dentes como se pudesse morder a carne
(ainda macia da boca...)
- nada disso se parece com você -
e por isso é ainda hoje o teu pre-nome que eu chamo à noite
um rosto rasgado pela luz
sorriso rouge num corte contornal
desfiladeiro dividindo a semelhança
e era com o fio no olhar que eu te chamava
(quando não havia palavra que nomeasse tua geografia)
- porque nada disso contém teu nome -
25.8.11
de Dedos heréticos
Os dedos : cirúrgicos : heréticos
Autópsia no rio Nilo:
um filete de saliva escorrendo aberta
pelos muros de berlin deitada em bruços
pelos mamilos duros outrora deus
- um gigolô dactilógrafo -
numa fração de mundo (o tempo) - meu relógio de sol - friccionado na coxa da mais antiga das putas
é ainda
possível
sentir...
( A n e l d e S a t u r n o )
qual saudades do sol
da pele liquefeita em sal
destronando a noite e refazendo o dia
não nela
na cona maestra
(REDESCOBRIR O GESTO)
instintuindo a dor como prazer oficial
Autópsia no rio Nilo:
um filete de saliva escorrendo aberta
pelos muros de berlin deitada em bruços
pelos mamilos duros outrora deus
- um gigolô dactilógrafo -
numa fração de mundo (o tempo) - meu relógio de sol - friccionado na coxa da mais antiga das putas
é ainda
possível
sentir...
( A n e l d e S a t u r n o )
qual saudades do sol
da pele liquefeita em sal
destronando a noite e refazendo o dia
não nela
na cona maestra
(REDESCOBRIR O GESTO)
instintuindo a dor como prazer oficial
21.7.11
de meias medidas
como medir...?
o afeto perdido entre os centímetros de um dragão preservativo...
a caridade estourando nas calças largas dos diretores de engenharia civil...
os fósseis denunciavam a burocracia do amor moderrno - doutorado em arqueologia.
será possível sobreviver a tudo isso?
como medir...?
a fé lubrificada pelos pensamentos positivos...
a possibilidade de ser feliz ante a satisfação segura de um gozo seguro e rápido...
a tranquilidade dos homens ainda reside numa relíquia alfabética - a bem-aventurança das doutoranças...
será possível não repudira a tudo isso?
e também - e porque não - continuar a observar o seus mundos,
sendo o meu
a última ilha desabitada
desta estranha terra
fadada ao fracasso....
Dizem: - é preciso ter bom-senso...
a medida do homem: Coragem
sempre ser e também às vezes estar.... dublar a sombra das vontades alheias e depois de tudo isso esvair-se em solidão, com o blend sanguíneo dos tempos escorrendo entre os dedos, e depois de tudo isso, ir além, espantar os pensamentos abundantes, tornar privado e confortável a fluència da língua, e misturar a tudo isso o desejo de não se tornar vendável... talvez só isso nos reste; talvez não haja mais nada...
rumores de que além daqui haja vida.
tremores que depois disso haja ainda vida.
certeza de que depois de tanto palavrear as coisas continuem sem verbo, sem transição, sinônimos, sem significado, sem substantivos, sem derivados, sem conjunções, sem nenhum tipo de ponto-final
o afeto perdido entre os centímetros de um dragão preservativo...
a caridade estourando nas calças largas dos diretores de engenharia civil...
os fósseis denunciavam a burocracia do amor moderrno - doutorado em arqueologia.
será possível sobreviver a tudo isso?
como medir...?
a fé lubrificada pelos pensamentos positivos...
a possibilidade de ser feliz ante a satisfação segura de um gozo seguro e rápido...
a tranquilidade dos homens ainda reside numa relíquia alfabética - a bem-aventurança das doutoranças...
será possível não repudira a tudo isso?
e também - e porque não - continuar a observar o seus mundos,
sendo o meu
a última ilha desabitada
desta estranha terra
fadada ao fracasso....
Dizem: - é preciso ter bom-senso...
a medida do homem: Coragem
sempre ser e também às vezes estar.... dublar a sombra das vontades alheias e depois de tudo isso esvair-se em solidão, com o blend sanguíneo dos tempos escorrendo entre os dedos, e depois de tudo isso, ir além, espantar os pensamentos abundantes, tornar privado e confortável a fluència da língua, e misturar a tudo isso o desejo de não se tornar vendável... talvez só isso nos reste; talvez não haja mais nada...
rumores de que além daqui haja vida.
tremores que depois disso haja ainda vida.
certeza de que depois de tanto palavrear as coisas continuem sem verbo, sem transição, sinônimos, sem significado, sem substantivos, sem derivados, sem conjunções, sem nenhum tipo de ponto-final
13.7.11
de viés
dos que estavam lá e puderam ver, lembro apenas de um, num relance, tinha o rosto de rinoceronte e os lábios de anêmona, mesmo nunca podendo confiar demais na minha memória, lembro dos olhos, que estavam lá e puderam ver, de relance talvez, seus dois olhos de leopardo, e esfregados pelos dedos de macaco, tinha o dorso como de um urso, talvez como de um rato, não lembro ao certo, apesar de confiar demais na minha memória, não soube distinguir a cor dos cabelos, era arriscado encará-lo, porém eu, dissimulado e muito discreto, olhava p'rum infinito acima de seus ombros, quase cego, desfocando o ponto de fuga, e contornando todos os detalhes de seu rosto, mas não lembro direito, não posso dizer que sei como ele era, nem se estava ou não olhando p'raquilo, ou se ele percebia que eu o observava, talvez por isso, talvez por não saber quem estava lá, e por ter perseguido esse compromisso da memória, não lembro do que vi, na verdade não lembro dos que estavam lá e puderam ver, lembro apenas de mim, que não lembra de nada.
3.7.11
17.6.11
de Dentro pra fora
sou um homem condenado. espetado de dentro pra fora por um pouco de conforto. os meus lábios estão rasgados por um prato de comida e um leito de inverno. esmagado, destroçado, meu coraçao derretido goela abaixo, meu espírito se arremessou nas pedras e paraplégico se arrasta pelo chão atrás de alguma sombra onde possa descansar e sonhar - mas que sonhos! um prato de comida e o traseiro arremessado nas cobertas da caridade? e com que ingratidão olham estes meus olhos pra tudo isso? olhos sedentos e pagãos! olhos assimétricos e notívagos, amarrados a toda paisagem de fora, a tudo que possui luz - não! não quero mais olhar a sombra!
correr não basta. é preciso fugir devagar. fugir! fugir! é preciso ir além, estar inacessível, intocável. mas que covarde eu sou! esta aventura de fugir não é para espiritos fracos. não sou dos que ficam e lutam. dos que crescem e transformam. não estou com os que amam a humanidade.
estou preso a tudo o que odeio! punido por tudo o que amo!
correr não basta. é preciso fugir devagar. fugir! fugir! é preciso ir além, estar inacessível, intocável. mas que covarde eu sou! esta aventura de fugir não é para espiritos fracos. não sou dos que ficam e lutam. dos que crescem e transformam. não estou com os que amam a humanidade.
estou preso a tudo o que odeio! punido por tudo o que amo!
8.6.11
de Canção dos Inflamados I
Eu sou o tumor do bem-estar
o cancrocristadegalomole nas constelações do pacifismo
a farpa aberta de uma unha esmaltada
o pulso do relógio sem batidas ao meios dia
a grande notícia curvada no tempo
um tíquete cuspido pra fora do espetáculo:
um chute no burocrata da birmânia comprando uma espanha cheia de espinhas
a paralisia infantil na adolescência trivial das ações na bolsa social
o benefício da inteligência na faca enferrujada
e sou também a enxaqueca o câncer e o hpv do progresso
sou o bônus
sou o lucro
sou a paz e sou a civilidade
sou a pomba sem cu
a merda sem cheiro
a felicidade transgênica
sou a medida da verdade e o sexo dos anjos explícitos
sou a religião a família e a propriedade
e sou também a corda amarrrada no pescoço do mundo
o único sobrevivente
o único assassino
e o último a pisar nesse chão
a garganta inflamada
os pés inflamados
sou a inflamação da ordem e da democracia
sou o começo da nova canção
a dívida do otimismo
o quilo do preço no pão
eu serei sempre a seta aguda do infinito
o mito íntimo da sua degradação.
o cancrocristadegalomole nas constelações do pacifismo
a farpa aberta de uma unha esmaltada
o pulso do relógio sem batidas ao meios dia
a grande notícia curvada no tempo
um tíquete cuspido pra fora do espetáculo:
um chute no burocrata da birmânia comprando uma espanha cheia de espinhas
a paralisia infantil na adolescência trivial das ações na bolsa social
o benefício da inteligência na faca enferrujada
e sou também a enxaqueca o câncer e o hpv do progresso
sou o bônus
sou o lucro
sou a paz e sou a civilidade
sou a pomba sem cu
a merda sem cheiro
a felicidade transgênica
sou a medida da verdade e o sexo dos anjos explícitos
sou a religião a família e a propriedade
e sou também a corda amarrrada no pescoço do mundo
o único sobrevivente
o único assassino
e o último a pisar nesse chão
a garganta inflamada
os pés inflamados
sou a inflamação da ordem e da democracia
sou o começo da nova canção
a dívida do otimismo
o quilo do preço no pão
eu serei sempre a seta aguda do infinito
o mito íntimo da sua degradação.
20.5.11
de P.erpetuum M.obile - (para)
...onde então eu rosnaria pra você, e ciciando mil neologismos insignificáveis no seu ouvido seria confundido com um outro. Aquele que ambulava com estrelas enferrujadas no bolso esquerdo, o sapato gasto e sujo, e a cara macia, porque acreditava que não haviam mais lastros de memória para se render. Antes disso você sabia o que éramos e por quais ruas deveríamos ter passado e em qual esquina teria sido necessário dizer adeus!, mas ainda assim preferimos recriar a primeira versão dos fatos num motocontínuo delicado... onde então eu rosnaria pra você?, e ciciando mil neologismos insignificáveis no seu ouvido seria confundido com um outro? Não com aquele que ambulava com estrelas enferrujadas no bolso direito, o sapato gasto e sujo, e a cara macia, porque acreditava que não haviam mais lastros de memória para se render. Antes disso você sabia o que éramos e por quais ruas não deveríamos ter passado e em qual esquina teria sido necessário dizer adeus?, mas ainda assim preferimos recriar a primeira versão dos fatos num motocontínuo delicado... onde então eu rosnarei pra você, e ciciando mil neologismos insignificáveis no seu ouvido serei confundido com um outro. Aquele que enferruja estrelas ambulantes no bolso esquerdo, de sapato gasto e sujo, e a cara macia, porque acredita que não há mais lastros de memória para se render. Depois disso você sabe o que seremos e por quais ruas deveremos ficar perambulando e em qual esquina será necessário dizer adeus!, mas ainda assim preferiremos recriar a primeira versão dos fatos num motocontínuo delicado...
13.5.11
de Céu memorável
houve um céu memorável
numa esquina rica em detalhes
cujos enfeites viravam defeitos
apóstolos ajoelhados
jogavam e apostavam
tudo o que não tinham
uvas, maçãs e manjedouras...
no cal a pele maciava estranhas figuras
lá longe
no oriente por enquanto exalam
o exílio essencial
de cada palavra
numa esquina rica em detalhes
cujos enfeites viravam defeitos
apóstolos ajoelhados
jogavam e apostavam
tudo o que não tinham
uvas, maçãs e manjedouras...
no cal a pele maciava estranhas figuras
Na estante uma cabeça de górgona tagarelando comigo. Finjo que não sei ou que não escuto. Sou Perseu aposentado de pernas pro ar. "Pégasus, cadê o osso? Pega! vai. Pega!" Os vizinhos reclamam do barulho. Do lado de fora milhares de batons fincados pelas frestas da janela, baleias sangrando no oceano, e os edifícios sombreando o sono dos desabrigados. Qualquer dia haverá um motivo pra se lamentar disso tudo. Não hoje. Não agora. Ainda há garrafas de cerveja na geladeira, e por enquanto isso basta. Prostitutas delivery. Tv a cabo. Código genético. Luta de classes.
lá longe
no oriente por enquanto exalam
o exílio essencial
de cada palavra
4.5.11
de Cultivos Gregos
sim!, porque se meu corpo fosse um poço
e alí florescesse com um adubo numinoso
uma essência quinta como flor de lótus
pura e improvável num jardim lamacento
(esperança de quem crê no mito do cultivo)
de repente uma lança
aguçada no meio do mundo
ou num agravo de luz
que cega
a penumbra de um pensamento borbulhando na entranha de um musgo universal
que divide a medida
e arrefece os ouvidos
à resposta pra uma pergunta infantil: crianças morrendo no bosque -
brincadeira inocente.
quando sentíamos sede
quando havia um lugar
enquanto houver tempo
- e o mundo prestes a desabar -
cantigas da infância e metros de solidão
fugido de uma verdade oblíqua onde tudo é reticente e mutável e adubavelmente persistente seja no tempo ou na pequena redoma de luz que são os teus olhos-agora
um fugitivo
e um lotófago
um ovo eclodido
e um grego com epifania:
- os hiroshimilhosbrancos! vejo-os no milho! -
...no cinema o casal tem o desfecho de sua própria representação -
"Francamente, querida,
eu não dou a mínima"
e nada termina sem um último suspiro...
e alí florescesse com um adubo numinoso
uma essência quinta como flor de lótus
pura e improvável num jardim lamacento
(esperança de quem crê no mito do cultivo)
de repente uma lança
aguçada no meio do mundo
ou num agravo de luz
que cega
a penumbra de um pensamento borbulhando na entranha de um musgo universal
que divide a medida
e arrefece os ouvidos
à resposta pra uma pergunta infantil: crianças morrendo no bosque -
brincadeira inocente.
quando sentíamos sede
quando havia um lugar
enquanto houver tempo
- e o mundo prestes a desabar -
cantigas da infância e metros de solidão
fugido de uma verdade oblíqua onde tudo é reticente e mutável e adubavelmente persistente seja no tempo ou na pequena redoma de luz que são os teus olhos-agora
um fugitivo
e um lotófago
um ovo eclodido
e um grego com epifania:
- os hiroshimilhosbrancos! vejo-os no milho! -
...no cinema o casal tem o desfecho de sua própria representação -
"Francamente, querida,
eu não dou a mínima"
e nada termina sem um último suspiro...
14.4.11
de Plano Sequência
Um minuto para fecharem os portões. Estou com as entradas da semana passada. Arrisco que ninguém notará. Mergulho no fundo de um precipício cheio de nomes e vozes e presenças irreconhecíveis, mas de alguma forma tudo é muito familiar. Uma flecha pontiaquíles me perfura no meio passo de um caminho que eu não escolhi. Não queria ver esse filme na semana passada. Nem desejo vê-lo agora. Se perceberem o bilhete antigo?, tenho dois, é possível que depois de uma desculposa desculpa distraída o segundo bilhete nem seja conferido. Desconfiemos da nossa própria vontade de vez em quando; para nossa própria segurança. Fica aqui uma pergunta: por que ver esse filme agora? Não possuo a resposta. O segundo bilhete: foi por ele que eu quase assisti a um filme que não queria, foi por ele que eu não assisti a filme nenhum, e é por ele que eu devo assistí-lo agora. Tudo muito simples. Se o filme for ruim... Eu sei que não vou gostar do filme. Bem, não preciso ficar até o fim. Afinal, estou só, e estou onde quero. Seria mais fácil e menos constrangedor se não precisasse fazer isso, mas há alguma coisa lá dentro daquela sala que precisa ser resolvida. Cânticos e feras lunares com luzesdiamantadas do céu perpendicularão um pequeno pedaço do destino, as três fiandeiras miraculosas do destino estarão lá, mijando-se umas nas outras, na tela do cinema e em nossas cabeças. Fechem essa maldita porta antes que eu entre nessa sala. Vagabundos ociosos e namoradinhas com freios de mão estarão lá também enfeitando o cenário desta gesta. Posso entrar, me sentar alí calmamente, e dormir durante o todo o filme. Não. Também isso seria perigoso demais. Ficarei aqui então corajosamente prestes a entrar, e esperarei honradamente que eles fechem os portões antes que eu consiga entrar. Mas eles não fecharão essa porta nunca! É preciso entrar. Sem mais rodeios. Um milhão de centopéias me conduzem a sala de projeção, de onde já posso ouvir os gritos desesperados dos que estão lá, imagino eles acorrentados em suas cadeiras engolindo quilos de hiroshimilhosbrancos socados à força goela abaixo pelos Cérberos-lanterninhas. O Cântico dos cânticos esfaqueando nossos ouvidos com pomadas rejuvenescedoras viscosamente besuntadas em nossas caras pálidas, os olhos estáticos buscando o ponto de fuga daquela renascença do inferno, baratas correndo pelas nossas gengivas, e ferozes rinocerontes de braços tortos socorrendo os velhos que ao menor clarão engolem suas dentaduras. Se houvesse uma única razão, apenas uma simples e tola que fosse, eu me deixaria ficar aqui tranquilamente com a tampa do crânio de minha cabeça entre as pernas esperando essas lesmas cósmicas sugarem meu cérebro e regurgitarem seus planos-sequência, sugando e regurgitando, sugando e regurgitando, sugando e regurgitando, até que finalmente terminasse a película, e então nós a guardaríamos dentro de uma dessas latas de metal de shernobyl e sairíamos com ela embaixo do braço abraçados a uma teta, que foi também sugada e regurgitada durante todo o filme, e no encontro com o ar do mundo, o ar plúmbeo e generoso dos carros, desceríamos a pé e descalços sob o sol desértico dos trópicos. Incandescentes e fritos, mas tranquilos e regurgitados, descansaríamos felizes esta noite em lençóis limpos abraçados a uma TetaGarbo e sonharíamos felizes o filme que realmente gostaríamos que tivesse sido filmado, o filme que realmente queríamos ter assistido. Mas... Não. Também isso seria perigoso demais.
para F.
eleva-me do teu sal tímido num salto
rio abaixo dos graus das latitudes e das expectativas
pr'um protúbero ramificado da tua saliva:
sê breve no teu discurso - leve na queda e no abraço
leve na despedida onde pende o silêncio prenhe de outras medidas
sê leve na gravidade semovente da tua sempre ida
- vela içada de um despetalar de pedras brancas -
multiplica a infinita imaginação do gesto quando a mão alcança
o infinito; um esboço fragrante - cheiro de que?
senão, quedarei velozmente no tempo
sim! leve como a queda de uma nau frágil
numa tormenta póstormentaprévia sempre atormentada
lançada no ar e recolhida pelo vento, pra depois
na hora do esquecimento; d'onde se pode recolher vieiras
se possa perder e se possa reencontrar
pra que se possa depois disso levar num salto
o gosto do teu sal tímido; e leve, tão leve quanto
o rosto de antes e o rosto de agora
corpo em mar aberto rebocado pelo tempo
tanto quanto o tempo leve; e esperar - garrafas ao mar!
que de lá sopre mais que vento.
rio abaixo dos graus das latitudes e das expectativas
pr'um protúbero ramificado da tua saliva:
sê breve no teu discurso - leve na queda e no abraço
leve na despedida onde pende o silêncio prenhe de outras medidas
sê leve na gravidade semovente da tua sempre ida
- vela içada de um despetalar de pedras brancas -
multiplica a infinita imaginação do gesto quando a mão alcança
o infinito; um esboço fragrante - cheiro de que?
senão, quedarei velozmente no tempo
sim! leve como a queda de uma nau frágil
numa tormenta póstormentaprévia sempre atormentada
lançada no ar e recolhida pelo vento, pra depois
na hora do esquecimento; d'onde se pode recolher vieiras
se possa perder e se possa reencontrar
pra que se possa depois disso levar num salto
o gosto do teu sal tímido; e leve, tão leve quanto
o rosto de antes e o rosto de agora
corpo em mar aberto rebocado pelo tempo
tanto quanto o tempo leve; e esperar - garrafas ao mar!
que de lá sopre mais que vento.
4.4.11
de Retratos e retratados
por um tempo o céu por cima da gente
cobrindo a medida e estabelecendo a moda
dos novos chapéus; véus de viúvas católicas,
e o pequeno colar de pérolas para uma nova amante
prometida nos vagos céus de porcos em forma de nuvens
e diamantes arrancados de lá enfeitando os salões da nobreza
deixados ou virados pelo avesso do tempo
e com a mais pura ostentação da riqueza de seus corpos
nús; colocados diante da minha paleta de cores
como se fossem minha obra inacabada, meu retrato crú
de Mademoiselle e Messier Fulano de Tal com peles brancas
e de suave modernidade; minha tinta, nossa tinta!
retrato e retratado, retrato e retratado, eis a ultra-tinta-humana:
minha lâmina derrama eternidade destes olhos
minhas falanges arqueiam a beleza de suas traquéias
e quem dirá que não
que não...
se a beleza de seus corpos está agora eternizada
na rouge canção de suas tragédias!
cobrindo a medida e estabelecendo a moda
dos novos chapéus; véus de viúvas católicas,
e o pequeno colar de pérolas para uma nova amante
prometida nos vagos céus de porcos em forma de nuvens
e diamantes arrancados de lá enfeitando os salões da nobreza
deixados ou virados pelo avesso do tempo
e com a mais pura ostentação da riqueza de seus corpos
nús; colocados diante da minha paleta de cores
como se fossem minha obra inacabada, meu retrato crú
de Mademoiselle e Messier Fulano de Tal com peles brancas
e de suave modernidade; minha tinta, nossa tinta!
retrato e retratado, retrato e retratado, eis a ultra-tinta-humana:
minha lâmina derrama eternidade destes olhos
minhas falanges arqueiam a beleza de suas traquéias
e quem dirá que não
que não...
se a beleza de seus corpos está agora eternizada
na rouge canção de suas tragédias!
27.3.11
de sonhos
primeiro dos sonhos
depois das promessas
depois de nós
depois de ti
e agora
desisto
de
m
i
m
d
a
q
u
i - n t e s
s
ê n
c i a
o primeiro dos sonhos: a matéria insonhável -
de espreitar da sombra agarrado a um poema irlandês
sem cafés cigarro ou sorte - nem silêncios vem
uma imitação desafinada do vôo de um pássaro
primeira violeta a arrebentar a aurora
depois das luas perdidas duas melodias
depois do depois, que inventar do porvir?
de ouvir canções perdidas também me perco
entre meias medidas e vozes imelodiáveis
num estranho rústico alçar de asas
som que persegue no encalço
o sonho - que foi o primeiro dos meus sons
depois das promessas
depois de nós
depois de ti
e agora
desisto
de
m
i
m
d
a
q
u
i - n t e s
s
ê n
c i a
o primeiro dos sonhos: a matéria insonhável -
de espreitar da sombra agarrado a um poema irlandês
sem cafés cigarro ou sorte - nem silêncios vem
uma imitação desafinada do vôo de um pássaro
primeira violeta a arrebentar a aurora
depois das luas perdidas duas melodias
depois do depois, que inventar do porvir?
de ouvir canções perdidas também me perco
entre meias medidas e vozes imelodiáveis
num estranho rústico alçar de asas
som que persegue no encalço
o sonho - que foi o primeiro dos meus sons
14.3.11
de Paris
café frio pra que nem cabem na cabeça de ninguém
conversas de arrancar fora as horas e os versos do chapéu
uma tragédia que se derrama no pão depois de trigo
ninguém mais lembrará da foice das guilhotinas
dos silêncios; bárbaros como só compete a nós
sermos; fome que conhece a nós seres de uma estratosfera mínima
enxugada da memória e repousada no tempo.
(tudo isso me lembra a Paris que não conheço)
cachorros borrachos deprimem a paisagem de setembro; e o que falamos no jardim
esta manhã, será necessário fingir que não,
recostados para a Avenida do Mal-Estar na Civilização, como tíquetes
de um espetáculo já assistido - Orfeu e Annabele -
devemos nos esquecer também num passeio urbano, deixar-se findar
num cimento castanho-escuro: legado de teus pés;
tudo isso porque não pudemos ser esquecidos pelo esquecimento
um pelo outro e pelo tempo que ainda temos...
conversas de arrancar fora as horas e os versos do chapéu
uma tragédia que se derrama no pão depois de trigo
ninguém mais lembrará da foice das guilhotinas
dos silêncios; bárbaros como só compete a nós
sermos; fome que conhece a nós seres de uma estratosfera mínima
enxugada da memória e repousada no tempo.
(tudo isso me lembra a Paris que não conheço)
cachorros borrachos deprimem a paisagem de setembro; e o que falamos no jardim
esta manhã, será necessário fingir que não,
recostados para a Avenida do Mal-Estar na Civilização, como tíquetes
de um espetáculo já assistido - Orfeu e Annabele -
devemos nos esquecer também num passeio urbano, deixar-se findar
num cimento castanho-escuro: legado de teus pés;
tudo isso porque não pudemos ser esquecidos pelo esquecimento
um pelo outro e pelo tempo que ainda temos...
8.3.11
Poema inacabado (continuar)
cansado, não possuo mais forças pra me livrar do que odeio: em mim - o rosto não é mais do que uma injúria
os pés estão trôpegos e sem possibilidades de conforto num leito prometido por uma idéia ingênua de felicidade...
alguém no ranço fácil da cortesia
que acalma, e talvez saiba mentir melhor que o sorriso de uma mulher melancólica
você
sussurrando
por trás das cortinas
- estou agredido pela lembrança -
a minha última notícia de pensamentos bons?
o salto por trás da razão pura
estávamos escondidos
eu
e
tu
acéfalos e impacientes, crendo que talvez somente inocentados pudéssemos
...continuar...
os pés estão trôpegos e sem possibilidades de conforto num leito prometido por uma idéia ingênua de felicidade...
alguém no ranço fácil da cortesia
que acalma, e talvez saiba mentir melhor que o sorriso de uma mulher melancólica
você
sussurrando
por trás das cortinas
- estou agredido pela lembrança -
a minha última notícia de pensamentos bons?
o salto por trás da razão pura
estávamos escondidos
eu
e
tu
acéfalos e impacientes, crendo que talvez somente inocentados pudéssemos
...continuar...
28.2.11
de Janelas escancaradas
agora mesmo, nesse fluir das pálpebras, aberto, os olhos, a janela traz o vento e o cheiro silencioso da noite, mesmo agora, é possível estar longe, não estar aqui e sentir os caricílios dos teus olhos bem próximos aos meus, como a namoradeira na janela de cotovelos gelados, sentindo saudades e o cheiro silencioso da noite, os olhos abertos, e é possível não estar aqui, agora mesmo, a janela aberta, fluir dos corpos, mesmo agora, enquanto caio...
25.2.11
de Zéfiro
justo porque quando ela liga o ventilador e a palavra não é de todos...
uma sensação espalhada pelo vento pelo silêncio e pela demora
mas há ainda uma equação a ser resolvida; que não é o cabresto do valente; nem o estribo do que sabe mais ou menos; nem uma sela que resolverá a alergia dos que tem à pelo...
é
talvez
uma soma de resultados
não calculados
entre a sombra a foice e o medo -
um corte de esgrima executado na ponta precisa do golpe:
um acerto fora da crença
daquele que mede o tipo depois do modelo:
quando assim se refaz o caminho
se meu
ou teu
ou se flor fora do tempo
deixa lá
assim o vento saberá o que foi feito do sopro...
uma sensação espalhada pelo vento pelo silêncio e pela demora
mas há ainda uma equação a ser resolvida; que não é o cabresto do valente; nem o estribo do que sabe mais ou menos; nem uma sela que resolverá a alergia dos que tem à pelo...
é
talvez
uma soma de resultados
não calculados
entre a sombra a foice e o medo -
um corte de esgrima executado na ponta precisa do golpe:
um acerto fora da crença
daquele que mede o tipo depois do modelo:
quando assim se refaz o caminho
se meu
ou teu
ou se flor fora do tempo
deixa lá
assim o vento saberá o que foi feito do sopro...
16.2.11
de Cento e Quarenta Caracteres
um onanista cego pontava as estrelas - QUAL O MEU NOME? - lembrou Narciso, Spica, Pollux, Antares... satis(fez) Flor Branca - via láctea.
9.2.11
de 'dopellGANGER'
Eu também percebi. Parece que os cachorros dessa vizinhança uivam como se estivessem clamando desesperadamente para que seu lado selvagem volte e os faça de novo senhores de si... Me desculpe, fiz de novo... é verdade. Às vezes eu exagero nas imagens. Talvez eles estejam apenas agitados demais hoje. Talvez eles saibam apenas coçar pulgas, não é mesmo?
6.2.11
de Primeira
uma fraca sensação de se sentir inseguro foi suficiente para penetrar profundamente entre os póros de nossas carícias.
havia uma lua entre a boca e o nosso safari discreto pelas penugens secretas de nossas escolhas foi dado a braçadas.
poderia dizer qualquer coisa que fizesse sentido para os olhos que lêem os ouvidos que em geral ouvem o que querem mas para a certeza era apenas um entretenimento feliz que a língua disparava para existir.
era triste e foi feito às pressas e ainda não acusava embriaguez.
era escura e fria.
depois de ferir a imaginação como um papel de rascunho.
o tempo foi reduzido à ressaca de nossas escolhas...
havia uma lua entre a boca e o nosso safari discreto pelas penugens secretas de nossas escolhas foi dado a braçadas.
poderia dizer qualquer coisa que fizesse sentido para os olhos que lêem os ouvidos que em geral ouvem o que querem mas para a certeza era apenas um entretenimento feliz que a língua disparava para existir.
era triste e foi feito às pressas e ainda não acusava embriaguez.
era escura e fria.
depois de ferir a imaginação como um papel de rascunho.
o tempo foi reduzido à ressaca de nossas escolhas...
29.1.11
de 'bloco-3'
Quadro IV O Sonho do Trabalhador
(um ônibus lotado. um homem depois de uma dia de trabalho dorme no caminho de volta pra casa)
- não... não... não. não. não! (desperta:sonha) Eu vou trabalhar mais, eu vou tra ba lhar mais... mas, eu; já trabalho tanto e... desculpa mas eu não posso. Sabe, eu tenho filhos, uma companheira, e uma vida pela frente pra - eu queria dizer: uma vida pela frente pra viver, mas acabei dizendo - pra trabalhar pra vocês, e... o querem que eu faça, ãh?! O que querem que eu faça? Querem que eu me arrebente nas máquinas de tanto trabalhar? Querem que eu produza mais quantas riquezas pra vocês por um punhado de ração? Ah, sim, eu sei que a ração vem melhorando de qualidade, afinal, tem até carne agora no cardápio, não é mesmo? Querem que eu pare? Querem que meus companheiros e eu, querem que agente pare? Eu paro. Se é isso que vocês querem, então está bem, é isso que vocês verão... mas, que isso...? não, não. Não vamos parar de trabalhar afinal, vocês precisam tanto de nós. Sabem que precisam de nós, não sabem? Mas, não, não é isso que eu queria dizer. O que eu disse, é que vamos parar de viver. Sim, isso mesmo que vocês ouviram. Vamos parar de se enganar, e achar que poderíamos ter alguma chance de uma vida decente como muitos levam por aí... Não. Estamos resignados a parar de viver, e trabalhar mais; todas as horas possíveis. Sabem, eu nem durmo mais direito mesmo. São as contas a pagar, o corpo massacrado pelo tempo que eu trabalho pra vocês, o tempo que eu levo da casa para o trabalho, e do trabalho pra casa, que nem é minha na verdade; portanto eu poderia morar no trabalho. É, no trabalho. Assim eu poderia gastar menos com moradia, vocês podiam diminuir meu salário, sem pudores, podem dizer que eu não preciso de tanto dinheiro... e tem mais! Eu vou produzir muito mais morando aqui! Posso trabalhar o dia todo sem parar! E mais ainda: Vou trazer minha família comigo, assim minha mulher pode me dar comida na boca enquanto eu trabalho e vocês não precisam se preocupar mais com aquela hora de trabalho parado. Eu não vou parar. Eu vou produzir como uma máquina pra vocês! Vou produzir o tempo todo! - (PRIMEIRA PARADA. APITO. o trabalhador desperta. LUZ BRANCA.)
Condutor - Primeira parada! aproveitem pra coçar as pulgas nesta primeira descarga de passageiros, porque na próxima próxima parada carregaremos este veículo com nova remessa de passageiros e não haverá espaço pra se coçarem!
(um ônibus lotado. um homem depois de uma dia de trabalho dorme no caminho de volta pra casa)
- não... não... não. não. não! (desperta:sonha) Eu vou trabalhar mais, eu vou tra ba lhar mais... mas, eu; já trabalho tanto e... desculpa mas eu não posso. Sabe, eu tenho filhos, uma companheira, e uma vida pela frente pra - eu queria dizer: uma vida pela frente pra viver, mas acabei dizendo - pra trabalhar pra vocês, e... o querem que eu faça, ãh?! O que querem que eu faça? Querem que eu me arrebente nas máquinas de tanto trabalhar? Querem que eu produza mais quantas riquezas pra vocês por um punhado de ração? Ah, sim, eu sei que a ração vem melhorando de qualidade, afinal, tem até carne agora no cardápio, não é mesmo? Querem que eu pare? Querem que meus companheiros e eu, querem que agente pare? Eu paro. Se é isso que vocês querem, então está bem, é isso que vocês verão... mas, que isso...? não, não. Não vamos parar de trabalhar afinal, vocês precisam tanto de nós. Sabem que precisam de nós, não sabem? Mas, não, não é isso que eu queria dizer. O que eu disse, é que vamos parar de viver. Sim, isso mesmo que vocês ouviram. Vamos parar de se enganar, e achar que poderíamos ter alguma chance de uma vida decente como muitos levam por aí... Não. Estamos resignados a parar de viver, e trabalhar mais; todas as horas possíveis. Sabem, eu nem durmo mais direito mesmo. São as contas a pagar, o corpo massacrado pelo tempo que eu trabalho pra vocês, o tempo que eu levo da casa para o trabalho, e do trabalho pra casa, que nem é minha na verdade; portanto eu poderia morar no trabalho. É, no trabalho. Assim eu poderia gastar menos com moradia, vocês podiam diminuir meu salário, sem pudores, podem dizer que eu não preciso de tanto dinheiro... e tem mais! Eu vou produzir muito mais morando aqui! Posso trabalhar o dia todo sem parar! E mais ainda: Vou trazer minha família comigo, assim minha mulher pode me dar comida na boca enquanto eu trabalho e vocês não precisam se preocupar mais com aquela hora de trabalho parado. Eu não vou parar. Eu vou produzir como uma máquina pra vocês! Vou produzir o tempo todo! - (PRIMEIRA PARADA. APITO. o trabalhador desperta. LUZ BRANCA.)
Condutor - Primeira parada! aproveitem pra coçar as pulgas nesta primeira descarga de passageiros, porque na próxima próxima parada carregaremos este veículo com nova remessa de passageiros e não haverá espaço pra se coçarem!
21.1.11
de Antes
reconcílios embalados pelas pálpebras flutuantes - antes asas de borboletas abertas nas horas do sono: dentro do atingido segredo do tempo as imagens pedestres entrecruzam suas réstias de antigas velas-luzentes, porque antes de todas as desditas, estava o sentimento guardado do verbo e do sentido, atrás do tempo e do cenário pingado em tintas leves, havia aquilo que era - a Matériaprima da própria Idéia...
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