17.6.11

de Dentro pra fora

sou um homem condenado. espetado de dentro pra fora por um pouco de conforto. os meus lábios estão rasgados por um prato de comida e um leito de inverno. esmagado, destroçado, meu coraçao derretido goela abaixo, meu espírito se arremessou nas pedras e paraplégico se arrasta pelo chão atrás de alguma sombra onde possa descansar e sonhar - mas que sonhos! um prato de comida e o traseiro arremessado nas cobertas da caridade? e com que ingratidão olham estes meus olhos pra tudo isso? olhos sedentos e pagãos! olhos assimétricos e notívagos, amarrados a toda paisagem de fora, a tudo que possui luz - não! não quero mais olhar a sombra!

correr não basta. é preciso fugir devagar. fugir! fugir! é preciso ir além, estar inacessível, intocável. mas que covarde eu sou! esta aventura de fugir não é para espiritos fracos. não sou dos que ficam e lutam. dos que crescem e transformam. não estou com os que amam a humanidade.

estou preso a tudo o que odeio! punido por tudo o que amo!

8.6.11

de Canção dos Inflamados I

Eu sou o tumor do bem-estar
o cancrocristadegalomole nas constelações do pacifismo
a farpa aberta de uma unha esmaltada
o pulso do relógio sem batidas ao meios dia
a grande notícia curvada no tempo
um tíquete cuspido pra fora do espetáculo:
um chute no burocrata da birmânia comprando uma espanha cheia de espinhas
a paralisia infantil na adolescência trivial das ações na bolsa social
o benefício da inteligência na faca enferrujada
e sou também a enxaqueca o câncer e o hpv do progresso

sou o bônus
sou o lucro
sou a paz e sou a civilidade
sou a pomba sem cu
a merda sem cheiro
a felicidade transgênica
sou a medida da verdade e o sexo dos anjos explícitos
sou a religião a família e a propriedade
e sou também a corda amarrrada no pescoço do mundo
o único sobrevivente
o único assassino
e o último a pisar nesse chão
a garganta inflamada
os pés inflamados
sou a inflamação da ordem e da democracia
sou o começo da nova canção
a dívida do otimismo
o quilo do preço no pão
eu serei sempre a seta aguda do infinito
o mito íntimo da sua degradação.