22.10.12

de Quedas...

uma vez, um homem tentando chegar perto do sol, tendo feito asas para voar, e para tanto, colado as suas asas postiçadas com pequenos nacos de cera, caiu, em vertiginosa queda, depois de ter alçado vôo em direção de seu Sol, quente e fumegante, como todo o sol costuma ser... - asas, sendo o que são, coisas flutuantes como pensamentos, coisas plumosas como se fossesm realmente asas, mas sendo postiças, como barbas de profeta,  como são as botas do Gato de Botas, e derretendo com o calor de seu objeto-Sol de desejo, ele caiu. Caiu como caem os cacarecos pensados para durar. Caiu como tudo o que sobe. Caiu como um quadril mole sobre um pesado supercazzolo do desejo. Caiu como caem as flores do Ipê Amarelo - espetáculo pros olhos - florescendo alegres, entre quedas e abraços...

                                                                             - olho de ícaro debruçado sobre a cidade nua -

                      num nariz sangrado, de tantas quedas:                       o cheiro do Sol...

                                          ela
                                                   solipsisando
                                                                         o arqueduto
                                                                                              dentro da pele:

  -  segunda epiderme do prazer...


                                 "um risco numa folha de papel:

                                                             um caminho
                                                                                 ou
                                                                                       um salto no abismo"

                                                ÍCARO DESESPERADO - o que pensa ele enquanto cai?

(medir o tempo, possuir o barômetro da nossa alma, e ter um segundo antes de tudo pra negar o que dói...)

uma vez um anjo quebrou a asa e gemeu de dor - a família pediu reembolso postal para a igreja e curou a dor...

                                                                        em algum lugar paradisíaco um homem dobrou certo seu pára-quedas e teve um final feliz...


                                                       ìcaro era grego e não entendeu direito os números romanos...
Contagem Regressiva: 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1...




                                             - A pletitude das coisas na insuficiência do tempo -




...um broto de ipê-amarelo começou a germinar...


                                                                     agora, faltam olhos
                                                                                              para olhar
                                                                                                                       m  a  i  s

                                                                                                                         (a m o r o s a-
                                                                                                                                      -m e n t e)

19.10.12

de Cartaratas de amor

Dus qui si dexaram poco si soube... apenas disseram adeus e nada além do amor deles significou pra mais ninguém. Um dia um homem eficiente leu sobre o romance que eles ousaram inventar no tempo que lhes foi dado pra isso, mas não entendeu nada e foi comer sardinhas num show aquático... ele havia se consultado com um doutor que além de médico era colecionador de selos, e apesar do diagnóstico, ainda assim, insistiu que pro homem doente seria um bom passatempo colecionar coisas, mesmo que não lhe restasse muito tempo pra isso... podia ser qualquer coisa que fosse velha e fosse barata e valesse a pena juntar em quantidade... assim, o homem resolveu colecionar amores que não tinha vivido. Cartas de amor que significadas e tendo o carimbo do correio, e tendo seus autores e leitores sido mortos por câmaras de gás, chicote no lombo, ou qualquer outro tipo de fatalidade humana, tivessem vivido seu tempo e registrado suas intenções de fornicação perpétua em bucólicas imagens sublimadas em cartas de amor... assim o homem doente terminal conseguiu juntar algumas, e antes de se cansar dessa sua ideia idiota que havia sido influenciada pelo velho médico estúpido de narinas entupidas que tinha interesse em coleção de selos, ele encontrou uma carta de amor de despedida. Os amantes se amavam. Os amantes se queriam muito e não ficava muito claro o motivo pelo qual se separariam, e diziam, que dali pra frente, caranguejo andava torto ou o amor mesmo é coisa que dá azia.... assim, se despediram, e sem demonstrar o menor remorso, assinavam, ADEUS... o homem doente leu a carta enquanto se limpava depois de uma cagada e pensava onde catalogaria tal carta de amor.... refletia sobre o grau amoroso que continha na carta e sofrendo de poderosa cólica, faleceu num banheiro público sem nunca ter escrito uma carta de amor sequer....