8.6.11

de Canção dos Inflamados I

Eu sou o tumor do bem-estar
o cancrocristadegalomole nas constelações do pacifismo
a farpa aberta de uma unha esmaltada
o pulso do relógio sem batidas ao meios dia
a grande notícia curvada no tempo
um tíquete cuspido pra fora do espetáculo:
um chute no burocrata da birmânia comprando uma espanha cheia de espinhas
a paralisia infantil na adolescência trivial das ações na bolsa social
o benefício da inteligência na faca enferrujada
e sou também a enxaqueca o câncer e o hpv do progresso

sou o bônus
sou o lucro
sou a paz e sou a civilidade
sou a pomba sem cu
a merda sem cheiro
a felicidade transgênica
sou a medida da verdade e o sexo dos anjos explícitos
sou a religião a família e a propriedade
e sou também a corda amarrrada no pescoço do mundo
o único sobrevivente
o único assassino
e o último a pisar nesse chão
a garganta inflamada
os pés inflamados
sou a inflamação da ordem e da democracia
sou o começo da nova canção
a dívida do otimismo
o quilo do preço no pão
eu serei sempre a seta aguda do infinito
o mito íntimo da sua degradação.