13.7.11

de viés

dos que estavam lá e puderam ver, lembro apenas de um, num relance, tinha o rosto de rinoceronte e os lábios de anêmona, mesmo nunca podendo confiar demais na minha memória, lembro dos olhos, que estavam lá e puderam ver, de relance talvez, seus dois olhos de leopardo, e esfregados pelos dedos de macaco, tinha o dorso como de um urso, talvez como de um rato, não lembro ao certo, apesar de confiar demais na minha memória, não soube distinguir a cor dos cabelos, era arriscado encará-lo, porém eu, dissimulado e muito discreto, olhava p'rum infinito acima de seus ombros, quase cego, desfocando o ponto de fuga, e contornando todos os detalhes de seu rosto, mas não lembro direito, não posso dizer que sei como ele era, nem se estava ou não olhando p'raquilo, ou se ele percebia que eu o observava, talvez por isso, talvez por não saber quem estava lá, e por ter perseguido esse compromisso da memória, não lembro do que vi, na verdade não lembro dos que estavam lá e puderam ver, lembro apenas de mim, que não lembra de nada.